Um olhar sobre Fortaleza

Quando eu era pequena, na verdade, quando eu era menor, por que pequena ainda sou, via a minha cidade como algo tão distante e diferente do que ela realmente é. Pois, para mim, uma menina de cinco anos, a cidade se limitava a minha rua, que sempre teve muita vida, vizinhos na calçada conversando, crianças correndo, gritando, ou seja, uma vida tranquila na metade dos anos 80.

Fortaleza ainda se limitava ao centro, beira-mar e no máximo o mais longe que poderia existir era o iguatemi, que nessa época, era o único grande shopping da cidade. A cidade, caminhava devagar, linda, como uma menina saida da infância.

Mas claro, se seu olhar virasse para fora da zona de conforto, que no meu caso era depois da Escola da Marinha, encontrava-se o lado pobre da cidade, não que nos outros cantos não existisse pobre, mas onde se localizava uma das grandes favelas da cidade, a favela do Pirambu, a pobreza ficava a vista, não mais escondida pelos prédios, que começavam a surgir em massa.

O que mudou em vinte nove anos? Bem, Fortaleza hoje é uma cidade grande, em todos os aspectos, muitos carros, apartamentos, vias em todos os cantos, porém, as pessoas não sentam mais nas calçadas, não se ouve mais a gritaria da criançada, e os pobres, esses espalharam-se, não por vontade de trabalhar e ganhar seu pão com o suor do seu rosto, pois o povo cearense, esse nunca foi de negar trabalho, porém os pobres, espalham-se por conta da falta de oportunidade, de qualificação e infelizmente de uma política que não somente dê a assistência, mas que também ensine a pescar, e ofereça águas propícias para isso.

Fortaleza, passou por uma transformação, que a deixou muito movimentada, destino de turistas, porém pessoas de outros estados, chegam a cidade do sol, a procura de oportunidade de recomeçar a vida, o que os cearenses fizeram em outros anos para o sul do país.

Hoje a poesia da cidade encontra-se em alguns pontos que ainda sobrevivem a essa correria, no caso, exemplo mais lindo é a Beira-Mar que ainda hoje é ponto de encontro das pessoas, seja para caminhar, seja para somente comer camarão nas barracas. E também a praia do peixe, hoje conhecida como praia de Iracema, point da década de 90, com o pirata bar que ainda tem seus atrativos.

Shoppings, a cidade tem para todo gosto, quem mora num bairro mais distante, agora não precisa deslocar-se, dentro de seu bairro tem lazer para todos. Ah e os ônibus, antes para ir da aldeota para a parangaba, tinha-se que pegar dois ônibus na ida, e dois para volta, hoje é bem diferente, tem os terminais, você vai de um extremo ao outro de uma forma rápida até.

Porém é o centro que traz mais tristeza e saudade, quando se aglomeravam crianças, pais, avôs e tios, para aguardarem os lançamentos dos filmes do ano, Os Trapalhões, Xuxa, etc, a praça do Ferreira era ponto de encontro, porém hoje o centro, se encontra abandonado, a praça do Ferreira se tornou ponto de moradia de várias familias, mas também de drogrados e o centro não é mais um ponto seguro nem de dia e muito menos depois das cinco.

Mas ainda tenho esperança, que Fortaleza volte pelo menos a ser mais alegre, menos sisuda, e com sua grande beleza que vem de quem aqui vive, cresce e amadurece.

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