A sombra- Parte 4
- Tylly
- 29 de dez. de 2015
- 5 min de leitura

O médico saiu e fiquei no quarto a pensar, será que ele estava certo, será que tudo é real? Vamos Sara pense no que você fez durante esse último tempo, porque a sombra está tomando conta de você? Mas, nada vinha na minha cabeça, não estava conseguindo pensar em nada. O sono começou a tomar conta do meu corpo, mas, não quero dormir, sei que se dormir vou encontrar o que fujo, o que não quero enxergar. Isso por um lado é bom, pois, terei controle sobre minhas ações, mas, se não o enfrentar não saberei o porquê estou passando por isso.
Deixei, assim, meu corpo adormecer e quando não mais ouvia, entrei em sono profundo. O que se passou foi que vi meu corpo deitado na cama do hospital, porém, o quarto estava escuro, não uma escuridão por falta de luz elétrica, mas uma escuridão profunda como se a energia do local estivesse totalmente negra. E minha respiração começou a ficar pesada, não estava conseguindo respirar direito, dessa vez não será igual, acalme-se Sara, você está no comando, assim pensei, e comecei a acalmar meus pensamentos, e minha respiração voltou ao normal. Será que posso sair desse quarto? Bem se estou na cama, pense, então posso sair, e assim, passei pela porta, como um fantasma, aqueles das histórias de ficção.
Quando sai do quarto, o que vi continuava da mesma forma, todo o corredor estava negro, será que o meu pensamento está assim, por isso, tudo que enxergo é negro? Mas, ao seguir a diante, encontrei uma luz, branca, segui em frente, quando cheguei a porta de uma sala, encontrei o médico que falara comigo agora a pouco e ele olhou para mim e disse: Não deixe que a escuridão chegue ao seu coração, pois não terá mais volta. A resposta está dentro de você, basta não ter medo de procurar.
Quando de repente senti uma força me puxando dali, quis gritar, mas ele olhou para mim com um ar de calmaria e disse: Não se desespere, deixe, vá, e encontre a verdade. Fechei os olhos e me deixei levar, quando percebi, estava como se fosse uma floresta, escura, pesada e triste, e na minha frente aquela figura, agora conseguia vê-lo melhor, não somente como a sombra que me atormenta a meses. Ele era um homem, quer dizer, ele parecia um homem, mas, quando forcei mais o olhar, a aparência era de um lagarto na pele de um homem, pensei: Estou doida mesmo, um homem lagarto? Quem já viu? Não é possível.
Mal terminei de formular o pensamento ele me respondeu com uma voz sarcástica: Tudo é possível quando se tem um ódio e um amor tão profundo, e você me traiu, disse que ficaria comigo para sempre e no primeiro momento resolveu renascer e me esquecer, como pode? Esquecer tudo que fizemos juntos, todas as almas que me deste, que me ofereceu, você não tinha o direito de se arrepender e pedir perdão. Você não fez forçada, eu não te forcei a nada.
Eu não sabia o que responder, não o conhecia, nunca o tinha visto e muito menos, eu nunca mataria ninguém, nunca feri nem uma mosca, imagine pessoas, será que esse ser está querendo me enlouquecer de vez. Ele deu uma risada nefasta e continuou: Claro que você teve coragem, sempre foi uma companheira de tarefas, seu poder sempre me foi útil, depois, que aquele horrendo homem com a luz azul apareceu, você, simplesmente decidiu ir com eles e me deixar, fiquei séculos a te procurar, sem nenhuma resposta, eles conseguiram te esconder, mas, eles não adivinhavam que você mesmo iria me procurar, é, aquela brincadeira, as tabuas, elas me ajudaram a te encontrar.
E continuou falando: Então resolvi bancar o espirito que prevê o futuro e você abriu as portas, assim, irá pagar a dívida, volte a matar, me entregue as almas que prometeu. Meu corpo tremia, não acreditava, não, eu não poderia ter feito coisas tão ruins, mas no fundo do meu coração, sentia que era verdade, e uma onda de imagens começou a se formar e comecei a ver. Eu era uma moça nos seus quinze anos, que tinha poderes, que poderia trazer a vida, mas, mas também a morte, usava um vestido claro, e uma coroa de flores na cabeça, estava sentada numa pedra de frente para um lago, pensando, nas responsabilidades que teria dali por dia, a mestra sacerdotisa Mista, tinha me dito: Cassandra, quando você nasceu, sabia que tinha uma missão, tem um poder que pode ser usado para o bem, para a vida, e agora terás que assumir a responsabilidade. Mas não queria, sabia que se assumisse não poderia ter minha família, e tudo que eu queria era ter o Kastro comigo, ele tinha me dito o quanto me amava, queria ficar com ele, não pedi para ter esse poder, não quero esse poder, pensei. Quando coloquei os pensamentos em ordem, estava decidida a não aceitar me tornar a mestra de todos, voltando para aldeia, vi uma festa e a Mista sorrindo disse: Venha Cassandra, venha festejar conosco o casamento de Kastro e Jossy. Quando ela falou isso, meu coração esquentou e tudo que passei a sentir foi uma raiva, um ódio, como eles poderiam ter feito isso comigo? Como Kastro poderia ter feito isso, depois de dizer que me amava.
Não via mais nada, quando ouvi a voz de Mista: Acalma-se Cassandra, volte a si, não alimente esse sentimento. Kastro veio a mim, dizendo: Cas, te amo mas sei que não poderemos ficar juntos, seu caminho é muito maior que o meu, precisa se acalmar. Mas eu não conseguia, sentia muito ódio, por todos e por tudo. Sai de lá correndo, quando por onde eu passava, nada mais nascia, tudo morria, meu ódio estava destruindo tudo. Parei, e passei somente chorar, quando uma figura alta, bonita, porém com o olhar escuro veio ao meu encontro, ele não abriu a boca, mas ouvi sua voz na minha cabeça: Assim Cassandra, sinta esse ódio, alimente-o e ele te tornará mais forte, e a mim também. Quem é você? Perguntei, e ele disse, sou Voste o Deus do caos, te ajudarei a se vingar, se essas almas trouxer para eu me alimentar.
Meu ódio era tanto que não pensei, acenei com a cabeça, e ele somente falou: Assim está feito, Mista agora verás como sei ser vingativo, você me ajudou a corromper o belo, a energia pura, ela agora vai me alimentar. Sai de lá, voltando para aldeia, minha imagem antes clara, feliz, estava escura, meus cabelos de loiro ficaram negros, meus olhos de violetas, tornaram-se vermelho e ao chegar. Mista veio a mim, porém ao me avistar, vi o pavor em seus olhos e nada eu disse, somente abri e fechei minha mão e a vida que existia nela se foi, como a todos que ali se encontrava. Senti prazer, a luz que existia em mim morreu naquele momento.
Voltando a mim, olhei para aquele homem, espirito, lagarto, o que ele fosse e disse: Vasto, eu agora me lembro, você me transformou em nada, no mal, hoje estou tentando me erguer e você não irá me derrubar novamente, saí dali, ele tentou me parar dizendo: Sou mais poderoso, você não conseguirá me deter, eu vou te vencer, sua alma me pertence, e virando para ele falei: Veremos! Desculpa te dizer, desta vez eu sou mais forte, e abrindo minha mão uma luz azul dela saiu e o atingiu, ouvi um grito, de dor e raiva, em seguida acordei, mas, diferente das outras vezes, sabia que era real e que a guerra recomeçará e desta vez eu estava fazendo o certo e não iria ser derrotada.
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