A pobre classe média

Faz tempo que era para ter postado algo, porém, não somente a correria, mas o Brasil não me permitiu. É tanta desgraça que fica difícil escrever sobre algo atualmente, mas, vamos aqui pegar um ponto que venho martelando na minha mente algum tempo. Por que o brasileiro não consegue se colocar no canto do outro?

Primeiramente para responder essa pergunta, é preciso analisar a formação do povo brasileiro, sim, o povo brasileiro não é uma “raça pura”, ela é sim uma mistura e olhe que mistura, negro, índio e branco. Ainda to pensando se esse branco era branco mesmo, porque Portugal no tempo do descobrimento “vulgo invasão” já tinha passado por uma invasão dos mouros, e esses em sua maioria tinha a pele escura, enfim, vamos ficar com a descrição de Gilberto Freyre, porém, salientando que para esta pessoa que vos fala, Casa Grande Senzala (1933) é um desserviço a história de luta dos povos que foram massacrados nessa mistura toda, não foi um romance e nem mar de rosa de passividade como Freyre(1933) tenta colocar no livro.

A sociedade brasileira foi construída em cima do preconceito, se olhar profundamente a literatura brasileira desde o século XIX, o que se observa é uma tentativa de mascarar a realidade, isso meus caros não é uma raridade na construção da história, ela normalmente é escrita pelos vencedores, pelos que mandam e eles contam as histórias de uma maneira que eles sempre sejam visto com positividade e os outros como negativos. Por isso na história o negro é colocado em muitos casos, como um animal irracional, ou os índios como preguiçosos, ou, como incapazes de viver em sociedade. Bem, autores como José de Alencar, com Iracema (1865) coloca um tipo de romantismo na colonização europeia no nordeste do Brasil. Tudo isso uma mentira, a colonização do Brasil foi realizada através do extermínio, exploração dos negros e índios e corrupção dos que eram explorados para escravizar os de sua própria raça.

Mas você deve estar se perguntando por que estou colocando isso, e o que tem a ver com a pergunta acima? Bem tem tudo a ver, quando houve a “mistura” dos povos, o brasileiro surgiu com características de todas as principais raças, então, surgiram os mulatos, mamelucos e caboclos. Quando se criou o serviço público esses descendentes que nasceram mais claros tomaram esses lugares, relatando de forma reduzida, assim surgiu a classe média. Não tem o dinheiro dos ricos, naquela época, não pertencia a nobreza ou a forças armadas, porém, tinha o prestígio de trabalhar para esse governo.

Enquanto isso os outros, negros e índios, foram cada vez mais sendo explorados e dizimados, eram cerca de cinco milhões de índios na época do descobrimento, hoje em 2019 existem em torno de 400 mil, foram trazidos para o Brasil em torno de 4,9 milhões de escravos, hoje a população negra no Brasil é em torno de 19,2 milhões. O que tem que ser salientado é que esses povos que foram identificados são os que estão em sua maioria na linha da pobreza, que não conseguem grande qualificação e quando conseguem ainda ganham menos dos que são chamados de brancos.

A classe média do brasil em sua grande maioria é formada por esse grupo de brancos (só na pele, pois, quando se faz o estudo de DNA, no Brasil todo mundo tem sangue de negro e índio correndo nas veias) é quem ocupa os cargos chamados privilegiados, mas, não se engane eles estão no mesmo patamar dos outros hoje. O que devemos demonstrar com isso é que a classe média brasileira, em sua construção histórica nunca quis se ver como povo, sempre quis privilégios, e estar acima desse povo. Por isso não se constituiu de lutas, pela igualdade, pela equidade entre aqueles que não tinham nem como sobreviver.

Por conta disso, apoia sempre os que são contra a classe menos abastadas e direitos são subtraídos, e em pleno século XXI, o Brasil se encontra caminhando passos largos de volta ao século IX, e alguns vão dizer: “mas no Brasil não teve idade média”. Sim no Brasil não se viveu a idade média, mas, isso não quer dizer que todos os direitos que estão sendo tirados não nos faça viver como na idade média. Essa incapacidade da classe média de se ver como classe trabalhadora e de não querer a ascensão dos menos favorecidos está afundando para o seu abismo mais profundos dos últimos quarenta anos, as pessoas que estão vivendo sem plano de saúde, que estão colocando os filhos em escolas públicas tem crescido a olhos vistos.

O pior disso tudo é que essa classe média continua a viver a ilusão, continua achando-se melhores que os outros, e por isso defende os seus carrascos como mitos, e cada dia que passa vão passando de gado a zumbis e transformando o Brasil na Venezuela que eles tanto querem se afastar, porém que a cada dia estão se aproximando mais o Brasil de se tornar.