Melhor juntar do que separar: FUJOSHI=BLEZEIRA
- tyllys
- 7 de jul. de 2021
- 4 min de leitura

Esse texto vem escrito em primeira pessoa pois é uma observação pessoal que venho verificando a algum tempo. Mas vamos primeiro com um pouco de construção histórica sobre o assunto. O desde o ressurgimento após Segunda Grande Guerra ficou conhecido como primeiro mundo dos quadrinhos e animação. Tesuka com suas histórias conseguiu transpor um campo que no ocidente foi dominação pela Disney. Os mangás são subdivido entre shounei (com histórias voltadas para o público masculino), Shoujo (com histórias voltadas para o público feminino) e kodomo (com conteúdo infantil). Essas categorias possuem subcategorias, no shoujo desde o final da década de 1960 surgiu um estilo que ficou conhecido por Yaoi, que tem como significado やまなし、おちなし、いみなし, ou seja, “sem clímax, sem resolução, sem significado”. Essa denominação não demonstra o que é o Yaoi realmente. Histórias criadas a partir dos relacionamentos homoafetivos, com todas as suas problemáticas, acabou por conquistar mulheres heteros.
Segundo Aranha (2010) são histórias de amor de meninos escrito e por mulheres para mulheres. Com o tempo a comunidade LGBTQIA+ se viu representada pelas histórias e passou a consumir. A cultura Yaoi não ficou somente nos mangás japoneses, eles se espalharam por outros países do continente asiático, mas isso não ocorreu até o início dos anos 1960. Já que a China parou sua produção quando ocorreu a revolução da primavera em 1949 e o partido Comunista entrou no poder. Voltando a ter produções a partir de 1970, mas o campo editorial só voltou mesmo nos anos de 1980. Diferentemente do Japão primeiro mundo em relação a produção de animação e mangás, os outros países encontraram outros meios para a divulgação dos seus conteúdos. O Yaoi só teve grande adesão em outros países a partir de 1990, quando muitos conteúdos começaram a ser produzidos. Porém, o boom veio com o advento da internet. Como já foi citado anteriormente, outros países começaram a produzir yaoi a partir de novos conteúdos. Na Tailândia e China as novels (livros) começaram a fazer muito sucesso na internet foi quando produções baseadas nessas novels começaram a ser produzidas.
No ocidente especialmente no Brasil as séries começaram a fazer sucesso a partir das fansubs na segunda década de 2000, quando a internet se tornou popular. Aí vem a problemática observada por mim, muitas garotas, principalmente entre 15 e 18 anos começaram a assistir essas séries e começaram a problematizar o que não precisa ser problematizado já que é uma obra de ficção. A autora A e B não está fazendo apologia a algo errado, ela está colocando na história por que faz parte do contexto da história. O leitor é que tem que ter uma criticidade para saber observar isso, o que não acontece em 99% das vezes no público que só consome série Yaoi, principalmente tailandesa. Outra coisa que é observada é que essas pessoas consumidoras tentam colocar o que nós ocidentais vemos como errado para o oriental, sem querer entender que são culturas diferentes, historicidade diferentes, sociedade diferente. Outro problema observado é que com o surgimento dessas séries, a palavra Yaoi foi sendo gradativamente substituída por Boy Love, algo natural de se ocorrer, porém, essas novas consumidoras passaram a separar Yaoi e Boy Love, para elas são coisas distintas. Pasmem, não são. A mudança de nomenclatura não muda o conteúdo, ou seja, se você gosta de conteúdo que tem como fundo relacionamento homoafetivo masculino, você tá consumindo Yaoi.
Outra coisa que percebi, que como essas consumidoras novas entram pelas séries, quase nenhuma tiveram contato com mangá. Ai agora tem algumas que não querem ser chamadas de fujoshi e sim blezeiras. A desculpa ( para minha humilde opinião, muito esfarrapada) que fujoshi é só quem ler e assisti conteúdo japonês. Não queria tirar a alegria delas, mas, fujoshi é um termo que já saiu do Japão para mundo. Na China, Tailandia, Coreia, Indonésia, você não é blezeira, você é fujoshi por consumir conteúdo de amor de meninos. Com essa afirmação essas pessoas estão alimentando um preconceito que as fujoshis tentam destruir a mais de cinquenta anos. Que mulher não pode ver ou ler conteúdo que tenha intimidades entre casal, principalmente se esse casal for homoafetivo. O que falta para essas pessoas é um pouco de bom senso e um pensamento crítico, para assim usar isso de forma positiva, ser fujoshi é ir de encontro o que a sociedade diz, é mostrar que mulher pode sim falar sobre sexualidade, que não é feiticismo e que toda forma de amor é válida. Alimentar essa divisão e problemáticas que não tem voz e campo é diminuir o significado que foi e é ser uma mulher que ama meninos que amam meninos. Então antes de vir colocar sua teoria baseada no seu achismo, vá estudar a luta das fujoshis e os diferentes estilos que existe dentro de cada país. E sim sou fujoshi e amo todos os estilos de YAOI/BL de qualidade. Não se conquista uma luta, pisando e desfazendo do outro. Esse filme as grandes guerras nos mostraram que não existe vencedores.
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