REPRESENTATIVIDADE E DIVERSIDADE: A PORTA PARA IGUALDADE SOCIAL
- tyllys
- 30 de set. de 2023
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Quando falamos sobre representatividade em meios estratégicos como justiça, educação, pesquisa, não é por que a minoria quer dominar, na verdade ela quer ser ouvida e respeitada. Nem sempre isso ocorre, principalmente em um país como o Brasil que há séculos vem deixando essa parcela da população a margem da lei. E quem são esses grupos? Todos aqueles que não são brancos, sulistas e que possuem como religião o cristianismo de algum seguimento. Negros, amarelos, indígenas, LGBTQIA+, mulheres, pessoas em estado de deficiência, pessoas em situação de rua, pequenos agricultores sem-terra, etc. O que leva a uma segunda pergunta, o que é ser cidadão?
Antes do capitalismo tornar-se o modelo econômico vigente, ser cidadão era aquele que possuía o direito de votar e ser votado, ou seja, homens, brancos, com dinheiro. A luta pelo sufrágio universal, foi a semente inicial para o surgimento do feminismo, pois, a luta pelo direito de a mulher poder votar e ser votada começou no fim do século XIX, na Europa e EUA. Segundo LESSA (2012), a mulher seria destinada a viver para interior do lar, enquanto o homem viveria o exterior. Esse pensamento vai o mesmo de Sócrates, para ele a mulher necessitária de um tutor pois a mesma não teria inteligência suficiente para poder viver fora do lar, no mundo. Todos esses pensamentos foram usados para amarrar a mulher a um papel que não lhe pertencia, tornando-a somente um objeto para o homem, para poder dar-lhe descendentes, com o surgimento do feminismo na metade do século XX, as mulheres passaram a lutar não somente pelo direito de votar e ser votada, mas, pelo direito de ter poder sobre seu corpo, sua vida e ser tratada em igualdade com o homem no meio trabalhista.
Aos negros, antes do capitalismo, foi destinado o papel de servidor dos brancos, trazidos de suas terras, foram escravizados com o aval de todos, inclusive da Igreja. Para justificar o tratamento desumano dado aos negros, usou-se a máxima que “os mesmos não possuíam alma”, essa afirmativa vinda daqueles responsáveis por serem os “porta-voz” de Deus na Terra. Após essa tese cair por terra, a nascente antropologia, veio determinar que os negros não eram inteligentes, pois, tinham a composição fenotípica diferente do branco europeu, lembrando que essa afirmação também foi utilizada para diminuir o povo amarelo, quando da tentativa de ocupação europeia na Ásia. No Brasil foram mais de 300 anos escravidão, mais de oito milhões de africanos foram contrabandeados para o país, para servir uma elite analfabeta que se achavam primeiro mundo.
A luta negra pela liberdade, que veio dos quilombos e que se concretizou em 1888 para todo o país, sendo que o Ceará libertou os seus escravos quatro anos antes, não foi realmente uma liberdade, o preto continuou sendo escravo, quando foi solto sem oportunidade de crescer, sem projeto, sem realmente serem livres. O racismo estrutural brasileiro enraizou-se quando um preto não pode ser médico, engenheiro, advogado, assistente social etc., quando para o negro somente serve as profissões consideradas de segunda classe, quando que para o preto só serve ser jogador de futebol e sambista. A luta contra o racismo no Brasil é uma luta diária, quando se anda na rua e pode ser parado somente pelo fato de ser negro, quando uma mulher negra tem três vezes maior possibilidade de ser morta do que uma mulher branca. O capitalismo veio aumentar essa distância e desigualdade entre brancos e negros, mas, também trouxe uma nova perspectiva de luta por direitos, os pretos passaram a valorizar suas origens e lutar pelo direito a vida, ainda há muito se caminhar para que o racismo estrutural fique somente nos livros e saia da realidade brasileira. E isso começa pelo preto se reconhecendo como preto e cidadão com direitos adquiridos.
A comunidade LGBTQIA+ passou por diversas fases, na época dos povos antigos quando não se tinha diferença quando se falava de sexualidade e muitos homens tinham relacionamentos e algumas sociedades aceitavam e tiveram imperadores gays, etc. Para a obscuridade quando o cristianismo se tornou a religião predominante. Na era vitoriana, ser homossexual era crime, levando muitos a prisão, caso do autor Oscar Wilde, até a castração química no caso do pai da computação moderna Alan Turing, dois gênios que foram julgados impiedosamente por uma sociedade “cega” vitoriana. Para FOUCUALT (1988), a era vitoriana foi um período obscuro para todos, não somente os homossexuais, porém, para esse grupo a repressão foi muito pior que para os heteros homens, pois, para mulheres a era vitoriana também foi um dos períodos mais repressivos em relação a sua sexualidade e liberdade.
A comunidade LGBTQIA+ viveu na obscuridade até meados da década de sessenta quando bar exclusivos começaram a surgir, em especial na California, EUA. Cidades como São Francisco, Los Angeles, Nova York reuniam uma grande comunidade LGBTQIA+, porém, essas limitadas em seus “nichos”, bairros e bares próprios para eles. Quantos tinham mascara heteros durante o dia e a noite se mostravam o que eram nesses locais. Em 1969 em NY, revoltados com os ataques gratuitos dos policiais a bares gays em especial ao ataque ocorrido no Stonewall Inn, iniciou-se uma revolta que deu inicio ao movimento para direitos LGBTQIA+. Hoje muitos países aprovam o casamento homoafetivos e outros apesar de não ter o casamento legalizado, o homossexualismo não é mais considerado crime, ou doença (retirado da lista de doenças mentais da OMS na década de 1990). A luta por direitos continua, pois, em muitos países homossexuais ainda são mortos por serem o que são, mas, não se pode negar que muitas vitórias formas conseguidas em 60 anos.
Por fim as pessoas em estado de deficiência, eram nos séculos passado escondidas das sociedades, ou, jogadas em precipícios para morrer, já que não seguiam o padrão de corpo perfeito das sociedades antigas. Antes do capitalismo esses eram escondidos em casa, na escuridão do lar, muitas vezes não citados, já que não seguiam o padrão aceito pela sociedade, com o capitalismo, ficaram confinados muitas vezes em hospitais psiquiátricos, já que não conseguiam produzir e não se encaixavam no modo de produção capitalista. A luta das pessoas em situação de deficiência é recente, somente na década de 90 que se intensificou a luta pela inclusão dessas pessoas a sociedade, mas, ainda assim se tem muitas barreiras para as mesmas. De locomoção a espaços adequados de educação, lazer, etc.
Na segunda metade do século 2000 muitas associações e conselhos foram criados no Brasil para atender os direitos dessa parcela da sociedade, mas, muito ainda há para lutar, quando se tem ultra direitistas da burguesia que tentam minimizar a atuação dessas pessoas na sociedade, tirando tira-lhes o direito a serem cidadãos, muito ainda tem que fazer.
Por fim, s fala dessas comunidades observa-se o quanto a representatividade nas mídias é importante para que seja respeitado a máxima dos direitos humanos: “todos são iguais...”. Não há diferença entre homo sapiens sapiens, apesar que o capitalismo e o neo liberalismo tentem mostrar o contrário, ser cidadão não é somente ter o poder de comprar, ser cidadão é ter seus direitos respeitados e assim contribuir para o crescimento comum e igual da sociedade. Então a representatividade é uma arma contra o tiranismo capitalista que ainda tende a colocar o homem, branco, cristão como o seu ser ideal, contudo é somente uma misera parte do todo e ao contrário do que ele pensa, insignificante para evolução humana.
Quando se tem diversidade e representatividade real, a sociedade tornar-se-á realmente justa e para todos.
BIBLIOGRAFIA
FOUCUALT, Michel- História da Sexualidade I: A vontade de Saber. Ed. Graal, Rio de Janeiro, 1988
LESSA, Sergio – Abaixo a família monogâmica. Instituto Lukács, São Paulo, 2012.
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